A casa que alberga o Museu Histórico Cornelio de Saavedra é uma relíquia do passado e funciona como marco perfeito para guardar uma minuciosa coletânea de objetos que pertenceram aos homens e mulheres de Buenos Aires do século XIX.
O dia que escolhimos para a nossa visita ao Museu Histórico Cornelio de Saavedra apresentou-se imelhorável: o sol brilhava aberto, o calor da primavera fazia sentir e a manhã convidava a um passeio. Pegamos o ônibus e empreendimos caminho.
Esse museu está junto ao Parque General Paz, do lado da Av. General Paz, um dos limites da Capital Federal, no bairro de Saavedra. Afastado dos tradicionais centros turísticos da cidade, quem quer visitar terá de sair na busca específica, mas o parque, a casa e o seu conteúdo valem a pena.
O primeiro que supreendeu, com o sol que caia forte, foi o verde do parque que rodeia o museu. Antiga zona de chácaras, continua sendo um espaço aberto. O prédio original do museu pertenceu à chácara de Dom Luis Maria de Saavedra, sobrinho do presidente da Primeira Junta de Governo (de quem pega o nome atualmente o museu e o bairro no que se encontra). A casa foi reformada para ser sede do museu em 1942 e o seu espaço verde passou a ser parte do Parque General Paz.
Mais longe, no mesmo prédio, encontram-se a sala Guillermo H. Moores (de amostras temporáis) e o teatro Carlos A. Pueyrredón, onde realizam-se regularmente atividades como concertos e obras de teatro.
O interior dessa antiga casa (que originalmente tinha um estilo arquitetónico italiano, mas depois foi reformada com o atual estilo neo-colonial para albergar o museu) resulta infinitamente atraente. No acesso, pelo pátio lateral, com as suas plantas, tijolos e paredes com cal, estamos ingressando numa vida diferente. Essa foi a casa de pessoas que moravam nesse mesmo lugar, mas quando os tempos eram diferentes.
Dentro, com vitrines, cartazes e móveis, estão organizados os vestígios de uma vida que é o nosso passado mas ao mesmo tempo resulta distante. Com um percurso cronológico muito bem feito, fomos avançando através da história e as modas para conhecer como moravam os portenhos antes, desde as primeiras décadas depois da independência (com um estilo anglo-saxão austero), passando pelo periodo rosista (no que até as pentes levavam o lema de “Confederação ou morte”), até final do século XIX (com a influência francesa e os ternos pretos que resultavam mais familiares).
Ainda se tivessem permitido tirar fotos no interior do museu, nenhuma foto teria alcançado para mostrar os detalhes minúsculos e bonitos de algumas das peças expostas. Assim que avançavamos no percurso, o mobiliário e os enfeites viravam mais carregados e complexos. Muitas das peças são verdadeiras maravilhas, como o jogo de sofás que pertenceu a Mariquita Sánchez de Thompson.
Diferentes quadros (por exemplo, uma série de óleos que ilustra as mudas que teve a Plaza de Mayo em 1880) e abundantes cartázes informativos completam o percurso global por esse passado que está sob os nossos pés.
O Museu Histórico Cornelio de Saavedra não só oferece a possibilidade de percorrer uma antiga casa de chácara, senão que permite, acima de tudo, ver e apreciar pequenos objetos (móveis, um piano, colares, armas, notas e moedas, vestidos) que alguma vez viveram a vida de uma Buenos Aires convulsionada e que hoje falam de um passado distante mas nosso.