Uma visita ao museu resulta tão complexa e fascinante como era a obra e pensamento do artista argentino Xul Solar.
Poucas vezes o espaço do museu esteve tão em consonância com o material exibido como no Museu Xul Solar. Subir pelas suas escadas e passear pelos seus ambientes é quase como ingressar numa das suas pinturas.
Caminhando pelas ruas de Palermo, um pedestre desprevenido poderia passar frente a esse museu sem sequer notar. A fachada do prédio no que morou Alejandro Xul Solar em Laprida 1212 mantêm-se tal e como era quando ele ainda morava, e só um cartáz e uma grande porta de vidro indicam que o que tem aí é outra coisa.
Mas com apénas ingressar compreendemos que o espaço no que agora estamos continua uma lógica excêntrica. Isso não é uma casa, não é a continuação da rua, é outra coisa. A música e a iluminação cuidada acentuam o efeito.
Um espaço novo
A remodelação desse prédio de mais de cem anos para recondicionar como sede do Pan Klub e Museu Xul Solar na década de '90 continuou as línhas do que o próprio Xul Solar tínha traçado nas suas visões arquitetônicas com aquarela.
Assim, essa instituição dedicada a preservar e difundir a memória e a obra (amplíssima e multi-facética) do reconhecido artista argentino exibe nesse prédio, na sua amostra permanente, uma coletânea de obras que o próprio Xul Solar tínha selecionado para o seu projetado Pan Klub.
Também encontramos diferentes objetos criados por ele e pertencentes ao artista, tais como um piano modificado para encaixar a um novo sistema de notação musical, um jogo de panajedrez (“pan-xadrez”), livros, máscaras e demais.
Os espaços, escadas e cidades multiplicam-se nesse museu com cada cuadro. As múltiples visões cabalísticas, astrológicas, mágicas e místicas de Xul Solar parecem impulsionar a ir mais um pouco.
Tentar ingressar nos significados dos seus cuadros, da sua pan-língua, dos seus jogos é ao mesmo tempo impossível. O cruzamento de imágens, signos, números e símbolos guia no caminho constante de Xul Solar para um conhecimento superior que, acreditava, poderia trazer uma utopia.
Hoje a pan-língua (uma língua que ele mesmo criou para que todas as nações puderam se comunicar), o neo-crioulo (outra língua criada por Xul Solar, mistura do espanhol e o português, para que América Latina unira-se numa língua só), seus jogos com o I Ching, as re-interpretações astrológicas, as mensagens místicas podem resultar alheias e confusas. Em algúm momento foram vanguarda. Podem ser ainda uma visão de um futuro melhor, se assim escolhemos.
O espaço do Museu Xul Solar parece uma breve mostra de que ainda é possível.