No coração de Buenos Aires de antes e no coração de Buenos Aires de hoje encontramos o Cafẽ Tortoni, e ingressamos a beber alguma coisa.
-Um café vienese, por favor.
-Em breve.
Copos e xícaras, pratos, colheres, bandejas da mão de homens vestidos com terno preto. Cadeiras e gente. O movimento não para, qualquer seja o horário do dia, no já mais do que tradicional Café Tortoni.
-¿Poderia ser uma cerveja?
-¿Chope?
Tem uma frase que se repete: o Tortoni é o café mais antigo da Argentina. Fundado em 1858, já fez 150 anos de história e continua aberto e funcionando. Esse lugar, que bem poderia estabelecerse como museu e pelo que parece ter acontecido o pais inteiro, é, porém, um café como qualquer outro. Mas não é como qualquer outro; em Buenos Aires tudo café parece um eco distante do Tortoni.
-¿Você poderia me trazer uma pizza? Com pimentos.
-Com pimentos para um. Muito bem.
De ar européu, o Tortoni foi fundado por um imigrante frnacês de sobrenome Touan, que chamou de “Tortoni” em alusão a um conhecido cafẽ que um imigrante italiáno tinha aberto em Paris e que no século XIX foi um centro de reunião da cultura parisina.
Os detalhes florescem nesse café que, como a cidade que estava forjando naquele momento, parece tirado de algúm recanto da Cidade Luz.
-Um café pingado, por favor.
Mas é tão francês como é portenho. Os tetos altos, as lámpadas, os muros cobertos de madeira abrigaram geração em geração de comensais que incluiam o melhor, o pior e o de sempre que o pais tinha para oferecer.
O Tortoni tem feito um culto da memória de todas aquelas figuras que hoje resutlam emblemáticas mas que no seu moemnto não eram mais que clientes que ingressavam em busca de um bom ambiente e um bom café. Todos estiveram aquí: Carlos Gardel, Jorge Luis Borges, Benito Quinquela Martín, Alfonsina Storni, Juan de Dios Filiberto, Raúl González Tuñón e muitos mais.
Numa das vitrines do lugar pudemos ver uma moeda que foi entregue ao café na inauguração da Avenida de Mayo, que tinha sido reformada para adaptar aos novos tempos da grande capital. O Tortoni esteve antes inclusive de aquilo que já damos por suposto.
- Um sanduíche torrado de pressunto e queijo. ¿E poderia ser uma garrafa de água?
-¿Com o sem gás?
-Com gás.
O mundo da cultura parece ter morado sempre aquí e não tem esquecido. São numerosos os reconhecimentos que o Tortoni exibe com orgulho. Mas também parecem numerosas as obras de arte que enfeitam e completam: esculturas, pinturas, gravuras e desenhos penduram dos seus muros, enchem seus recantos.
O Tortoni conta com um exército de homens de branco e preto, profissionais com experiência e jóvens entusiastas, sempre prontos a servir com a melhor atenção.
Os turistas do mundo inteiro sabem já que se vão a passar por Buenos Aires, tem que ir ao Tortoni. Algumas das línguas que escutam-se nas suas mesas são quase impossíveis de reconhecer.
Mas isso não quer dizer que esse café tem virado numa espécie de zona internacional. Os portenhos convivem com os do interior, com os do exterior; todos querem um café.
O Tortoni parece ter um espaço para tudo. Quase todos os dias realizam-se atividades e espetáculos tanto num cenário especialmente disposto quanto na adega do subsolo.
-Um cafẽ, por favor. Longo
Mas tanto ir e voltar não cansa. A pressa desse café vive ainda com o ritmo de um século XIX que pensávamos perdido até que atravessamos as suas portas. Tem, com certeza, um ar diferente aquí dentro.
Além da sua história ilustre, do seu valor artístico, patrimonial ou nostálgico, tem um elemento que faz do Tortoni um lugar mágico: continúa sendo um grande lugar para beber um café.