Uns poucos dias do ano, com intensidade febril, o cinema apodera-se de Buenos Aires e os daqui e os de lá podem se-deleitar e sofrir com o último e o clásico, o regional e o que chega do outro lado do mundo.
Começa a correr a voz: fica perto mais uma vez da cidade o Festival Internacional do Cinema Independente de Buenos Aires (BAFICI) e os fãs tentam conseguir algum avanço do que será a programação desse ano.
Finalmente, anunciam-se filmes e horários, e começa a venda de ingressos. Começou o festival.
Falar sobre BAFICI é quase impossível. Se assim que esse torvelinho de cinema deixou a cidade qualquer pessoa faz a prova de falar com outra que tenha assistido, poderá comprovar que é como se cada um tivesse ido a um festival diferente.
Convem, então, partir desde a premisa: não vamos chegar a ver nem uma parte do que queriamos. Mas também tem outra realidade que não é menos certa: nesse festival as surpresas não faltam e é seguro que mais de uma vez sairemos tendo descobrido muito mais do que esperávamos no ingresso.
Já com o festival inaugurado, começam aparecer as filas frente às boleterias e para acessar às salas. Pouco a pouco vai se somando o pessoal. Os que tinham comprado seus ingressos antes, passam direto. Os que não, compram no momento, escolhem ao azar, adquirem o que encontram e logo comecam a aparecer funções esgotadas.
¿Por que recomendar, então, uma experiência que por momentos mergulhe-nos em océanos de gente, que trae frustrações pelo que não chegamos a ver, por esse filme para o que não conseguimos ingressos, que pode nos alcançar belezas inesperadas do séptimo arte e ao mesmo tempo que nos amarrar frente a experiências atroçõs (Curioso: para cada qual essas experiências são diferentes), que nos quita o sono e as hóras de vida?
Podemos dar duas respostas e que cada um escolha a sua
Por um lado o BAFICI é uma janela ao novo cinema: o cinema que está se fazendo e o cinema que não chega às salas de exhibição comercial. Não se trata apénas de ver o último do último (ainda que isso também), de ver o que é filmado em paises aos que normalmente não temos acesso (ainda que isso também): o BAFICI conta com seções de retrospectivas, clásicos, diálogos, encontros com diferentes figuras que estão perto de Buenos Aires para participar desse evento.
Por outro lado, o BAFICI é um fenômeno particular e que com razão cada ano continua crescendo. As hordas de gente, as hóras, os filmes, as salas, o deambular de um recanto a outro da cidade para caçar outro filme. O festival é uma experiência em sim mesmo.
Coisas que não poderiam acontecer em outro lugar, acontecem então. Uma energia especial da paixão em comun que é o cinema. Uma paixão que por uns poucos dias desdobra-se mais uma vez como era antes e como pode ainda ser. E de repente estamos frente a situações que pareciam extintas: ingressar a uma sala escura sem a menor idéia do que é o que vamos assistir, fofocar pelos corredores com perfeitos desconhecidos para ver que opinharam do último filme, descutir fortemente por um filme que merece ser defendido.
É certo, o BAFICI pode ser terrível e cansativo, mas vale muito a pena. E ocupa pouco mais de uma semana no ano.